Cicatrizes.

Sempre que te vejo, todas as defesas do meu corpo desfazem-se. É como se tudo o que eu tivesse construído até ali, se desmorenasse num segundo. Toda a força que investi para te tirar da minha memória, para deixar de sentir o teu toque, para não olhar para coisas que me fizessem lembrar de ti e para me esquecer dos arrepios que o teu aroma me causava. Todo o esforço, toda a dedicação, para tudo desvanecer num instante. É como se nunca tivesse existido qualquer dor, como se o meu coração estivesse inteiro, nem que com mil pedaços de fita-cola, mas inteiro, só naquele momento.
Nunca pensei que ainda tivesses este poder sobre mim, o poder de controlar os meus movimentos, o poder de ainda atraíres o meu olhar na tua direcção. É frustrante, sabes? Mesmo que eu queira olhar noutra direcção, é como se naquele momento não fosse eu a dona do meu corpo, mas sim tu. O meu coração já não bate a uma velocidade alucinadora cada vez que te vejo, não como antigamente. Mesmo assim, bate de maneira diferente. Mas nem mil pedaços de fita-cola sustentam um coração que já quebrou demasiadas vezes.

Visualizo a tua imagem na minha cabeça, uma e outra vez, só para ter a certeza de que não deixei passar qualquer pormenor teu, para ter a certeza de que ainda és como a minha mente te imaginava. E enquanto penso em ti, apercebo-me que a tua presença, por muito reconfortante que seja, abre as feridas mais duras, num ápice, mas demoram uma eternidade a fechar, a cicatrizar, embora não por completo.

E quando dou por mim, todo o meu coração se encontra em mil pedaços no chão e tenho de apanhar todas as peças e colocá-las cada uma no seu lugar. Sozinha. Não posso permitir que interfiras na minha vida desta maneira! Recuso-me a dar-te essa importância. Não mais!

Por isso, hoje te digo que foste uma peça fundamental na minha vida, daquelas raras pessoas por quem faria tudo, por quem voltaria a suportar toda a dor que me causaste, só para te sentir nos meus braços outra vez, só por uns escassos momentos de felicidade. Já não. Cresci, aprendi e por isso hoje te digo não. Hoje sou feliz e não voltava atrás. Nem mesmo por ti. Sou feliz.
E da próxima vez que este episódio se repita, vou conseguir controlar o meu corpo, o meu olhar, o meu coração. Vou ser dona de mim.